Apaixonada pelo cd desde seu lançamento, que teve direito à perfil do cantor no The New York Times e comparações ao igualmente maravilhoso e intenso Bon Iver, confesso que não sabia o que esperar da performance. Qualquer expectativa foi superada. O show excede a beleza do mais recente trabalho pois é tão vivo e catártico como seu intérprete.
Pontualmente às 21h, o terceiro sinal do Auditório do Ibirapuera tocou (sim, como no teatro), as luzes se apagaram e depois de uma projeção de um vídeo as cortinas subiram e revelaram um cantor completamente entregue à sua música e ao seu público, que retribuiu levantando das cadeiras e se aglomerando à beira do palco.
Em "Meu mundo", terceira faixa do cd, Otto canta que seu mundo dança. E como dança, corre, pula. Tanto que o folêgo se esgota e ele pede um tempo para descansar entre uma música e outra. Mas sem permitir silêncios, o cantor agradece, e muito, seu público fiel, presente não só no momento de reconhecimento mas durante sua carreira inteira, agradece os envolvidos com a produção do show (que incluiu um belo jogo de luzes e projeção no palco), agradece a participação da cidade de São Paulo em sua carreira, chega a se emocionar.
Fala muito, sobre o trabalho, sobre seus sonhos, os motivos de sua intranquilidade. Por vezes a banda começa a tocar a próxima música e Otto interrompe, diz: "peraê" e termina seu raciocínio, que não é necessariamente linear, não importa, é expressão de um cantor que vive à flor da pele e sua música reflete isso.
O pernambucano não está sozinho em seu momento de excelência. Uma banda muito bem preparada, conectada, faz com que o espetáculo seja completo. O tecladista Bactéria, do Mundo Livre S/A, Pupillo, da Nação Zumbi, na bateria, o guitarrista Junior Boca e os percussionistas Malê e Axé completam a formação junto com Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, que mostrou a força de sua guitarra (e voz) em um momento próprio para divulgar seu trabalho.
Otto provou no último fim de semana que o velho clichê é verdadeiro: o sofrimento pode ser benéfico, um aprendizado. No caso dele, depois de enfrentar brigas com gravadora, separação da esposa e o falecimento de sua mãe, a dor o levou a talvez seu maior momento de glória. E Otto aproveita cada momento, para a sorte do público.
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